tag:blogger.com,1999:blog-21294470664622454942024-02-18T21:26:10.295-08:00Galeria da PalavraHumberto Kzure-Cerquerahttp://www.blogger.com/profile/08438943462755485779noreply@blogger.comBlogger5125tag:blogger.com,1999:blog-2129447066462245494.post-67558803834967966402013-04-02T12:32:00.006-07:002013-04-02T12:49:25.398-07:00Der Himmel über Berlin (Asas do Desejo – 1987) – O Olhar de Wim Wenders sobre Berlim.<br />
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrGvg_s2AIoKpajqA-sG1JATezkWIV0AZmLbOVwRHb08lUZAjQXrBWjXr_Fe0gaXpeYXm21ELs0gdZR_SHxvfPjvqu-WkCWngB7KimG0AJrJjv_UNBz_Nw1GqKtx5yhY_GYmeEqrxyaGxz/s1600/15+-+wingsofdesire_www.stumbleupon.com.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="436" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrGvg_s2AIoKpajqA-sG1JATezkWIV0AZmLbOVwRHb08lUZAjQXrBWjXr_Fe0gaXpeYXm21ELs0gdZR_SHxvfPjvqu-WkCWngB7KimG0AJrJjv_UNBz_Nw1GqKtx5yhY_GYmeEqrxyaGxz/s640/15+-+wingsofdesire_www.stumbleupon.com.jpg" width="640" /></a></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;"><br /></span></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Em meio a </span><span style="line-height: 150%;">um clarão, entre nuvens, uma pálpebra se abre e expõe o olho daquele que vem do
alto. Uma presença anunciada sobre papel branco, tinta preta e a mão que
escreve: <i>“Als das Kind Kind war, wusste
es nicht, das es Kind war, alles war ihm beseelt,und alle Seelen waren eins</i><i>”</i>; uma mensagem, uma cantiga para os que
vêem o que outros não vêem. Uma lente difusa que
extrapola os limites da imaginação e da fantasia para aguçar os sentidos que
tornem possível a verossimilhança.</span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Postado nas ruínas da torre da Gedächtniskirche, lá está o anjo
Damiel prestes a adentrar o universo urbano. Com o olhar, identifica camadas da
cidade de Berlim; seus quarteirões e pátios, suas ruas e cruzamentos, os
automóveis parados ou circulando, as pessoas. Esse ser etéreo flexiona uma das
asas, metamorfoseia-se e ganha os céus como pássaro. Num rasante entre rastros
de fumaça de um avião, transporta-se para o seu interior, agora sob a forma de
figura humana.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">No interior da
aeronave, Damiel (Bruno Ganz) é percebido, entre olhares cúmplices, apenas por
uma criança. Afinal, no imaginário de Wim Wenders, ao anunciar sua inusitada
estória fílmica <i>Der Himmel über Berlin</i>
(<i>Asas do Desejo</i> – 1987), somente
crianças são capazes de enxergar anjos. Além do mais só elas não se preocupam
com o que é ficção ou o que é real. Tudo é verossímil. Os demais, mortais
passageiros entretidos em seus próprios pensamentos, vivem a expectativa do
pouso dentro de minutos na cidade. Dentre estes, destaque para um personagem
creditado como <i>As himself</i>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Inquieto, <i>As himself</i> é a representação da figura
do diretor de cinema movido pelo desejo de realizar um projeto fílmico sobre
Berlim. Anunciado como estrangeiro para o espectador, Peter Falk interpreta o
papel de um diretor norte-americano, <i>alter
ego</i> do diretor alemão, e sugere um personagem duplamente ambíguo em <i>Der Himmel über Berlin</i>; é, ainda,
claramente o personagem de um “ex-anjo”. Demonstra, ao mesmo tempo, a ansiedade
própria de quem é um ser alheio à cidade, ou do filho que a ela retorna para
resgatar a memória embaçada de um local atravessado pelos vestígios da destruição
e da guerra.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Na sequência, um
plano mescla a cidade com um nevoeiro. A câmera se lança para o alto, como uma
aeronave a fazer acrobacia. Desliza entre as nuvens e destaca, em seguida, a
torre </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">de <i>Messe und
Ausstellungs gelände</i> – um centro de convenções feito à época da ocupação
soviética. Da janela do avião, a morfologia urbana de Berlim se exibe aos olhos
dos viajantes. O edifício <i>Messe</i>
aparece no primeiro plano, seguido dos fluxos de carros sobre o viaduto que
faceia a linha férrea e dos quarteirões residenciais do entorno.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">A câmera, ao se aproximar
dos edifícios de apartamentos qu</span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">e têm nas fachadas vários painéis
publicitários, desperta o interesse do anjo Damiel. O seu ponto de vista conduz
a câmera a entrar, pelas janelas, no ambiente interno das moradias. Ele observa
uma velha senhora sentada numa poltrona e que, em silêncio, dirige o olhar fixo
para a janela da sua casa, onde a imagem de <i>Messe</i> se projeta. Atrás dela, um jovem
agachado. Nada a distrai diante de algo que lhe traz recordações.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Damiel, agora em
outro apartamento, encontra-se diante de uma mulher apreensiva em meio à
reforma por ela executada na casa. O ambiente é tomado pela melancolia da
música que vem do rádio. Daí, o anjo se transporta para outra moradia. O
vizinho, que chega à casa com trajes de frio, senta-se entre livros e vê à sua
mesa um álbum de fotografias que remetem às lembranças de laços afetivos. Esses
primeiros personagens sugerem as idas e vindas dos indivíduos por uma cidade
fracionada.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Do interior </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">de um apartamento, a câmera se debruça na janela, tal como os olhos do anjo,
vendo do alto o movimento de crianças a brincar no pátio do edifício. Neste
enquadramento a imagem fixa especial atenção na área de recreação, limitada
entre uma das fachadas do prédio e o muro que a separa da avenida repleta de
automóveis em circulação. Descreve, por assim dizer, uma espécie de articulação
entre os lados interior e exterior da cidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Mas a câmera
retorna ao seu principal interesse neste momento: (re)conhecer o modo de vida
dos moradores. Atravessa portas, janelas ou paredes. Não há limites para o
visitante em sua investigação nos apartamentos. Vê um jovem de camiseta e
jeans, sentado e com aspecto de artista. Entra na casa de d</span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">ois idosos na qual o homem vê na televisão a imagem de uma mulher
movimentando moedas, enquanto; na cozinha, a provável esposa, à mesa e reflete
o tempo como que paralisado.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Das escadarias
do interior do edifício para o ambiente em que alguns meninos assistem a um
programa de televisão, o anjo se faz agora presente como imagem daquele que os
observa. Num quarto de outro apartamento, repleto de brinquedos pelo chão, uma
menina de óculos e de aparência frágil, é vestida pela mãe. Ela, como toda
criança, troca olhares com Damiel. Ele, por sua vez</span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">, atém-se ao peitoril da
janela adornado com animais de brinquedo, o que
sublinha o movimento da cidade e sinaliza a sua saída.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O voo rasante do
anjo sobre a cidade vai revelando viadutos e avenidas em fluxo. Neste instante,
Damiel capta o som estridente de uma típica ambulância berlinense, mesclado ao
choro de um bebê. Entra no veículo em que um homem acompanha a mulher gestante.
O anjo põe a mão sobre a sua barriga e acalma mãe e filho, prestes a vir à luz.
É a primeira interferência direta do anjo na vida dos moradores da cidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Na mesma
avenida, a sequência fílmica é pontuada por imagens de pessoas motorizadas, entre
as quais um homem discutindo com a mulher, uma anciã dirigindo seu automóvel em
companhia de um cachorro, uma família de imigrantes turcos. Atento, Damiel ouve
o pensamento de cada indivíduo, seus anseios e conflitos. Até então, o anjo tem
procurado reconhecer o contexto em que estão inseridos os habitantes de Berlim,
como vivem e como se comportam neste particular lócus urbano.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Noutra fração da
cidade, Damiel acomoda-se no interior de um carro parado numa revendedora de
automóveis. Cerra os olhos como se descansasse. O plano agora o focaliza com aquele
que será seu companheiro nesta viagem: o anjo Cassiel. Os dois dentro do carro
estacionado, com um livro aberto, observam pela vidraça as pessoas do lado de
fora. Alguns parados, outros em movimento – a pé ou de bicicleta. Há os que se
aproximam da vidraça e também um jovem que é visto correndo à frente. Nesta
loja, é mostrada a discussão entre uma compradora e o vendedor.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Damiel e Cassiel
confabulam dentro do automóvel sobre o que os move no périplo pela cidade. Dirigem-se
para a <i>Staatsbibliothek zu Berlin</i>, o
abrigo da falange de anjos que paira sobre Berlim. Lá, eles acompanham o
movimento de pessoas de diferentes tipos e idades, inclusive uma mulher de
origem islâmica, que estudam e fazem pesquisas. Neste lugar, que possibilita a
captura do saber, apenas dois meninos se distraem e percebem a presença de
Damiel.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">No interior da
biblioteca, o movimento de câmera e a constituição dos planos são rigorosamente
definidos por uma geometria precisa, ressaltada pelos quadros, que à semelhança
de um mosaico, primam pelo equilíbrio da composição dos espaços e da
profundidade de campo. As imagens resultantes, que transcorrem sob a mira dos
anjos, indicam o percurso das pessoas pelos salões de leitura, pelos mezaninos,
sentados em mesa ou à procura de referências nas estantes.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Corte. Agora
Damiel está no metrô. O anjo está no meio de vários personagens da cidade,
cuidadosamente representados no deslocamento da câmera. Suas expressões evocam
lembranças, fadiga, inquietude ou expectativas. Alguns lêem, outros cochilam e
despertam e há ainda o que carrega uma criança no colo. Também há os que mexem
ansiosamente as próprias mãos. Neste mesmo vagão, Damiel se aproxima e traz
alento para um homem cabisbaixo, de mãos cruzadas e um tanto apático.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">No túnel por
onde correm os trilhos do metrô, um plano destaca um ímã preso a um barbante e
que toca vários pontos do subsolo. A câmera sobe e lá estão dois meninos sobre
uma boca de lobo tentando capturar uma moeda perdida. Damiel demonstra
curiosidade diante da ação, mas segue em direção a novas descobertas. Chega a um
núcleo habitacional e depara-se com outras crianças brincando com uma bola à
frente de um extenso muro. Um outro menino, solitário, o observa. <o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Percorrendo esse
espaço de moradia, o anjo surpreende-se ao ver, por meio de uma espécie de
janela ou portal, um circo montado no espaço exterior. Um elefante passa e
preenche o plano. Sob a tenda, uma trapezista ensaia movimentos pendulares que
cortam e recompõem o espaço cênico. Uma presença feminina adornada com asas
domina a tela num balançar suave, que expressa o desejo de voar. Marion
(Solveig Dommartin) é um “anjo de carne e arte” materializado para o espetáculo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Damiel, movido
pelo encantamento das evoluções da trapezista, transporta-se para o universo
humano. Seus olhos, em fração de segundos, vêem aquele cenário, até então
matizado pelos tons de preto e branco, transfigurar-se em um colorido terno.
Marion finaliza os ensaios, sai da tenda e senta-se no capô de um carro. Ainda
paramentada e com aparência melancólica, cobre-se com um casaco de frio e
deixa-se envolver pelo silêncio.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Pensativa, a
trapezista distrai-se e sorri ao ver um elefante em movimentos adestrados para
o espetáculo. Damiel, enamorado, a observa. Um músico com um acordeão se aproxima.
Ela retira o adereço em forma de asa, coloca-o sobre ele e passa a perambular
entre a tenda, carros e aparatos do circo. Vai à sua cabine e coloca uma música
para ouvir. Damiel entra em seus aposentos, põe as mãos sobre objetos,
fotografias, pedras: a intimidade e a memória de Marion. <o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Sentada na cama,
sem perceber qualquer presença estranha, ela se desnuda sob o olhar embaraçado
de Damiel. Mais uma vez ele depara com o mundo real dos seres da terra, ao dirigir
os olhos para os contornos da tez rósea de Marion, como se acariciasse aquele
corpo delgado envolto numa imagem que se metamorfoseia em tons de azul e verde-água.
A naturalização da imagem anuncia a relação de ambivalência que paira sobre
Damiel durante o repouso da mulher.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Corta para outra
cena da cidade. A sequência do filme transcorre entre planos e imagens urbanas.
O cruzamento de uma ponte com uma rua e a uniformidade da escala dos edifícios em
perspectiva é o cenário do acidente entre um carro e um motoqueiro.
Desacordado, um homem está imobilizado</span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> e ferido na cabeceira da
velha ponte de ferro. Damiel se aproxima e pousa as mãos sobre ele,
confortando-o dos impactos físicos do acidente e do estado de choque.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Em frente a essa
ponte, a câmera move-se de um lado para outro mostrando que ali há uma divisão
de espaços para automóveis e pedestres. Neste momento, um jovem, que parece
transtornado com o acontecido, vem correndo pela faixa lindeira, aquela
destinada aos automóveis, ao encontro do acidentado. No mesmo local, numa
esquina, os curiosos: uma mulher turca com carrinho de bebê, crianças, adultos,
observam o estado daquele homem. Fim de mais uma cena urbana.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Ladeando a
ponte, no sentido destinado aos pedestres, Damiel continua sua caminhada por
Berlim, agora a pé e misturando-se cada vez mais com os pedestres. Olha para a
lateral e vê uma linha férrea cujos trilhos, entre árvores, cortam e separam
partes da cidade. Sobe </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">na <i>Siegessäule</i><a href="file:///C:/Users/AUCasulo/Documents/HUMBERTO%20KZURE/TESE%20HUMBERTO/BERLIM%20WW.docx#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> de onde é possível observar a paisagem de inverno que
marca o grande parque Tiergarten, o frontispício horizontal que modela e
predomina no conjunto dos edifícios de Berlim e a
torre de televisão – <i>Fernsehturm –</i> na
<i>Alexanderplatz</i> (praça central de
Berlim, palco da memória de manifestações culturais e políticas) que confere
verticalidade à perspectiva da forma urbana.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">De volta para a <i>Staatsbibliothek</i>, o plano fílmico privilegia
a figura de um homem que, visivelmente, traz no corpo as marcas do passado.
Sentado à frente de uma mesa, o personagem Homer espelha a sua memória por
entre os exemplares do globo terrestre que descansam sobre uma base rígida e
estática. Os objetos lembram uma geografia humana que põe o mundo em discussão,
segundo sua dinâmica, suas contradições e até as atrocidades decorrentes da
guerra.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">De fato</span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">, as marcas do passado, os
lugares de memória da guerra pontuam as descobertas de Damiel. Num <i>flashback</i>,
vêem-se a inserção no filme de imagens
documentais dos destroços da cidade de Berlim e dos seus mortos – adultos e
crianças ––, atirados na via pública. As lembranças de Homer, silenciadas por
sofrimento e dor, têm na presença do anjo Cassiel o acalento de alguém sobre um
corpo sobrevivente. Carrega consigo o peso e os impactos dos que presenciaram a
brutalidade e a intolerância daqueles que não suportam a diferença.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Num gesto
saudosista, este homem marcado pelo tempo e pelo cansaço vai da <i>Staatsbibliothek</i> até os vestígios remanescentes
da guerra. Percorre o emblemático <i>Berlin Mauer</i>,
o muro de concreto que separa a cidade em partes contrárias – ocidental e
oriental. Na primeira parte, onde foi possível a captura de imagens à época, a
textura do obstáculo exibe impressões e manifestos políticos e artísticos por
meio da técnica do grafite. Não se trata apenas de atos de contestação, mas o
desejo de reintegrar laços societários.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Nesta área, um grande
vazio no espaço urbano mostra a <i>Potsdamer
Platz</i>, lugar de encontros e manifestações culturais em Berlim, os cafés,
espetáculos e encontros sociais da cidade. Nas recordações de Homer, são mostrados
os passeios pelo espaço público, quando as pessoas perambulavam pelas calçadas
e paravam de vez em quando para comprar <i>souvenirs</i>.
Mas a sua lembrança remete às próprias imagens do medo e do pavor dos relatos
de guerras e se </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">embaralham
nos <i>takes</i> coloridos e avermelhados das ruínas da cidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas é em <i>Mitte</i> – centro geográfico de Berlim e
lugar que concentrava número expressivo de moradias e comércio dos judeus – que
o filme mostrará os destroços da paisagem urbana até o fim dos anos 1980. Neste
espaço, o anjo Damiel detém-se na figura conturbada de uma jovem diante de um
típico <i>imbiss</i> – espécie de quiosque
que vende comidas e sanduíches a preços populares. Na sequência, um carro sai
de uma garagem sob os arcos de sustentação da rede ferroviária.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Essa ambiência
constitui planos fílmicos que irão motivar o percurso motorizado de Cassiel por
tais partes da cidade. A paisagem ora é vista pelo movimento cotidiano dos
habitantes, ora pelas imagens documentais que trazem ao presente os impactos da
tragédia. As ruas são tomadas pelo lamento e pelas lágrimas dos sobreviventes.
O trajeto de Cassiel pelas ruas de Berlim o conduz a um <i>set</i> de filmagem onde se reconstituem passagens trágicas sugeridas
pela guerra.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Agora, em um
filme dentro do filme de Wenders, intercalado ainda de outros filmes
documentários, o diretor utiliza-se </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">de uma figura que é ele próprio como personagem.- Peter Falk, para ilustrar a organização e a produção do <i>set</i>. Há a exposição de atores
recrutados, equipe técnica e figurantes selecionados, além de objetos de cena
que compõem o espaço de reconstituição dos conflitos passados. Para tanto, o
cenário é um dos escombros remanescentes que induz à percepção de um lugar que
mescla realidade e representação.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Neste local, a
presença de uma senhora escalada para o filme desperta curiosidade quanto ao
destaque que lhe é conferido no enquadramento da imagem. Introspectiva, ela
pensa sobre momentos duros da guerra e da difícil tarefa das mulheres na
reconstrução da cidade. Mais uma vez, Wenders utiliza imagens coloridas e
documentais para facilitar a compreensão e veracidade dos fatos. Não parece se
tratar apenas de uma opção estética, mas de enfatizar o que algumas pessoas
vivenciaram.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Enquanto transcorrem
as filmagens, Damiel e Cassiel seguem para o circo e assistem a um espetáculo
voltado para o público infantil. No centro do picadeiro, Marion, paramentada de
felino, apresenta jogos de malabares que aguçam o imaginário das crianças ante
a arte do equilíbrio. A gata finaliza o espetáculo numa apoteótica chuva de
balões, o que instiga meninas e meninos a tomarem o palco e o mundo da
fantasia, numa atitude de celebração da vida e da alegria.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Plano geral: uma
árvore seca, entre águas frias e névoa, sublinha a solidão; o isolamento. À
beira de um dos canais da cidade, onde se vêem cisnes repousando sobre as
águas, Damiel e Cassiel refletem sobre o estado das coisas que presenciam.
Andam por uma calçada vazia que faceia o Muro de Berlim. Param e fixam o olhar
sobre a paisagem que se revela, em plano aberto, árida e fria, que pouco
estimula a presença das pessoas. Sobre o canal, uma revoada de pássaros ganha
os céus e transpõe as fronteiras da intolerância.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Num plano geral
da cidade, uma grua se movimenta na construção de um edifício e se fixa no
centro da imagem, como artifício de mudança da sequência do filme. Entre a
massa edificada, a câmera se dirige para o emblemático edifício da Mercedes
Benz, local escolhido por um homem para cometer suicídio. Cassiel não consegue
detê-lo. Ele cai sobre Berlim, numa possível alusão à desesperança. O anjo
salta sobre a cidade, crianças assustam-se com a briga dos pais, um homem dorme
na via pública.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Esta convulsão
do espaço urbano só reforça a desestabilidade social e física de Berlim. Na
agitação desordenada, <i>insert</i> de
imagens histórico-documentais trazem à tela uma cidade em chamas. O contraponto
se faz nos planos seguintes, ao explorar a perspectiva do sonho e da busca do
equilíbrio emocional dos indivíduos, utilizando-se para isso o universo
circense. O malabarismo repousa, enquanto os artistas celebram mais uma
temporada de espetáculo sob a exuberância poética da lua cheia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Numa boate,
Marion se deixa levar pelo som de uma banda de <i>rock</i> e dança entre pessoas que restringem toda comunicação apenas ao
compartilhamento das batidas musicais. Damiel, sob o olhar absorto de Cassiel,
mira a trapezista em contidos movimentos de baile e, em fração de tempo, se
humaniza e se mostra seduzido por ela. Na mesma noite, Cassiel se afasta para
refletir sobre sua permanência na cidade. Vai a uma lavanderia, aproxima-se da
única usuária daquele serviço: uma mulher turca entre suas malas de viagem.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">As máquinas de
lavar roupa encerram a sequência em alusão ao tempo e ao espaço real,
modificando-os e incorporando-os à imaginação. O plano posterior, cenicamente
construído a partir da montagem com efeitos de fusão, comprova este tipo de
associação. Nele, o presente e o sonho se mesclam quando se inscreve nas
imagens o pouso das asas do anjo Damiel sobre a face adormecida de Marion. Ele
acaricia as mãos e o rosto da mulher como sinal de mudança de seu percurso.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Daí em diante, percorre-se
Berlim através de uma sucessão de cenas do cotidiano urbano. Dentro de um
ônibus – <i>BVG-Doppeldeckerbus</i>, num
entardecer, Cassiel pensa sobre os rumos que irá tomar. Diante de um <i>imbiss</i>, Damiel vê Peter Falk desenhando
as ruínas da antiga estação de trem Anhalter Bahnhof. Depois, anda ao lado de
Cassiel na faixa lindeira ao Muro, na face branca e fria da barreira de
concreto, que se impõe sob a égide da militarização soviética. O companheiro
percebe o seu desejo de permanecer naquela cidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Subitamente,
Damiel se afasta da condição celestial para adentrar o espaço humano.
Desacordado, Cassiel o transporta para o lado ocidental, onde o Muro está pintado
de grafites à semelhança de figuras guardiãs. Um helicóptero sobrevoa a área, e
crianças o observam. Sobre a sua cabeça cai uma armadura que o fere e desperta.
O sangue do ferimento prova que se tornara homem. As cores e os sons da cidade
o surpreendem e compõem sua nova realidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Em frente do
Muro, esboça o seu primeiro diálogo com um passante, indagando-lhe a
identificação das cores de cada figura que compõe o mural de grafites. Sente
frio. Vai a um <i>imbiss</i> e toma café.
Perambula pelas ruas do bairro de <i>Kreuzberg</i>,
</span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">sob a linha do <i>U-Bahn –</i> o
metrô de superfície –, e, num antiquário, típica lojinha de Schöneberg, troca a
armadura por chapéu e casaco de inverno. Uma criança aproxima-se dele e pede
informação sobre uma direção a tomar na cidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Como cidadão,
Damiel segue livremente por Berlim. <i>Insert</i>
de uma sequência dos artistas do circo levantando acampamento. Enquanto isso,
ele chega ao antigo abrigo de guerra – <i>Luftschutzbunker</i>,
locação do filme de Mister Falk – <i>As
himself</i>. Separados por um gradil, os dois conversam, em inglês, sobre
curiosidades de </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Damiel
acerca das operações que envolvem os mecanismos de
uma filmagem.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Cassiel mais uma
vez repousa sobre </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">a <i>Siegessäule</i>, o seu refúgio fincado no Tiergarten. Do parque, pressente
o estado de melancolia de Marion em mais um fim de temporada. Ouve seus
pensamentos e vai ao seu encontro como um ser que irá guiá-la nos passos
seguintes. Já Damiel, agora humanizado, corre ansioso pelas ruas, entre os
automóveis, para chegar ao circo. Paralisa-se ao perceber o vazio do local.
Restam somente marcas geométricas do lugar do picadeiro; o círculo por onde ele
caminha aos chutes, em desespero.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Dois meninos
rompem o plano fixo, vão em direção ao centro do círculo e se aproximam de
Damiel. Desolado, ele olha para as crianças e, em seguida</span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">, amarra o cadarço do sapato de um deles. A imagem transforma-se em preto e
branco com a presença de Cassiel, a mão amiga que descansa sobre o ombro de
Damiel induzindo-o a encontrar o que o moveu a permanecer na terra. Daí em
diante, ele sai do metrô, anda por entre lojas da estação, come uma maçã e vê
numa televisão o diretor Mister Falk.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Na tela da TV,
um relógio sinaliza as horas e o tempo para Damiel. No mesmo instante, num <i>imbiss</i>, Marion toma café quando o
diretor americano chega ao balcão e faz seu pedido, e Cassiel, do outro lado da
rua, observa a rápida conversa entre os dois. Ela parte e Mister Falk,
observado pela balconista, fala algo como “eu não posso ver você, mas sei que
você está aí”, o que surpreende Cassiel. Corta para um shopping center, onde
Damiel e Marion circulam em lados opostos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Damiel sai numa
rua pouco iluminada onde um cartaz lhe chama a atenção sobre um <i>show</i> musical: Nick Cave and The Bad
Seeds. No meio de uma expressiva platéia, estão ele e Marion absorvidos pela
melodia. Do palco, ao lado da banda, Cassiel dirige o olhar para os pontos do
ambiente em que cada um se encontra. No balcão do bar, fora da pista de dança,
Damiel toma uma bebida. Marion, em traje vermelho, sente-se atraída por ele,
que lhe oferece uma taça de vinho. Enamoram-se.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Homer, de costas
e portando um guarda-chuva, anda em direção ao Muro que anuncia o fim de um
capítulo da história da cidade. Damiel e Marion, juntos num salão, fazem
acrobacias com uma corda que desce do teto. Cassiel, sentado na escadaria,
admira os movimentos de equilíbrio da trapezista conduzida pelas mãos do seu
parceiro e cúmplice do espetáculo anunciado. O anjo Cassiel retorna </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">à <i>Siegessäule</i> e lança o seu olhar sobre
Berlim. <i>Fortsetzung folgt</i>. Isto é:
“continua”. E o filme acaba.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div>
<!--[if !supportFootnotes]--><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br clear="all" />
</span><br />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<br />
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><a href="file:///C:/Users/AUCasulo/Documents/HUMBERTO%20KZURE/TESE%20HUMBERTO/BERLIM%20WW.docx#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a>
<i>Siegessäule</i> é um ícone da cidade de
Berlim, sob a forma de obelisco adornado no topo com uma figura de anjo. A Coluna
Vitória, como é conhecida, foi concluída em 1873 para comemorar a vitória dos
militares prussianos sobre os austríacos, dinamarqueses e franceses, em meados
do século XIX.</span><i><o:p></o:p></i></div>
</div>
</div>
Humberto Kzure-Cerquerahttp://www.blogger.com/profile/08438943462755485779noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2129447066462245494.post-18045571834919953392013-04-02T12:31:00.002-07:002013-04-02T12:49:03.899-07:00RIO 40 ° - O Olhar de Nelson Pereira dos Santos sobre a Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.<br />
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNfm7ldqEjZ4Va44mlEUe_V_uipRg_RJY57SlDTXW15b5PQuXLJf6zwrRhrC6NRZNVGxRouGAeMLfjJjOofByVZ6oxv_yQY17K2L2AdSXJM69Szc6Dn-Ge6-OBrglTfzpYRxIXB0mufj9q/s1600/garoto+e+transeunte_04.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="430" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNfm7ldqEjZ4Va44mlEUe_V_uipRg_RJY57SlDTXW15b5PQuXLJf6zwrRhrC6NRZNVGxRouGAeMLfjJjOofByVZ6oxv_yQY17K2L2AdSXJM69Szc6Dn-Ge6-OBrglTfzpYRxIXB0mufj9q/s640/garoto+e+transeunte_04.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Sobre o ar ela
plaina e flutua. Faceia contornos curvos e exuberantes da fisionomia pétrea,
que no silêncio se impõe e se faz cúmplice do olhar curioso. Imprime movimento
sobre o que fixo, reluz movimento. Guiada por mãos cautelosas, ela é o
instrumento de mira e captura da geometria sinuosa. Esta é a câmera que desliza
entre a gravidade e surpreende o espectador ao capturar variadas paisagens
urbanas: naturais e construídas. Tinge a tela com os créditos a </span><i style="line-height: 150%;">Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro </i><span style="line-height: 150%;">em<i> Rio, 40 Graus</i>, de Nelson Pereira dos Santos.</span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O filme se
inicia pela demonstração de apreço à exuberância natural e aos contrastes entre
sítio geográfico e arquitetura da popularmente conhecida Cidade Maravilhosa.
Parte de um plano geral da cidade, onde ícones da paisagem como o morro do Pão
de Açúcar, que brota da Baía de Guanabara, e a Praia de Copacabana ilustram uma
geografia que define contornos de pura beleza. É o Rio de Janeiro de águas e
montanhas que fascina os visitantes e os seus moradores. Mas é também a cidade
cuja morfologia está conformada por uma construção socioespacial heterogênea e
fragmentada.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Do “cartão
postal” ao universo das favelas, pela primeira vez a cidade é representada a
partir de contrastes físicos e conflitos societários. Quando a câmera vem do
alto, a paisagem fílmica carioca em nada é reveladora da existência de espaços
que guardam oposições entre si. Este é, porém, o desejo e a missão que o
cineasta dá a si próprio.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;"> Ao idealizar <i>Rio, 40 Graus</i>, Nelson Pereira dos Santos evidentemente não tratou
de documentar um dia de intenso calor no Rio de Janeiro. A estória contada pelo
cineasta enfoca os diferentes tipos humanos que vivem, circulam e experimentam
a adversidade urbana de maneira individual ou coletiva. Trata-se de um calor, ou
melhor, de uma tensão, que é antes de tudo social e está, naqueles idos de 1955
quando o filme foi realizado, prestes a explodir, malgrado o tom de alegria. Há
os que estão na praia da zona sul – áreas nobres da cidade –, os que estão no
estádio de futebol do Maracanã – que toma o centro da tela – e os que habitam na
área da favela. Daí, no Morro do Cabuçu, saem, por exemplo, os garotos
vendedores de amendoim, que transitam por todos os ambientes filmados e articulam
a narrativa do filme. Trazem à mão latas que estocam e aquecem os grãos em
brasas de carvão, prática bem conhecida na cultura carioca. Latas que </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">fazem par com as de água transportadas na cabeça de moradores, que
sobem e descem o morro pelas ladeiras de chão batido e casebres de tipologia
rudimentar com telhados de duas águas, distribuídos, à época, ainda de forma
rarefeita.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Em </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">película preto e branco, com fotografia que espelha uma estética austera e ao mesmo
tempo suave, o filme produz admiráveis efeitos de luz e sombra que,
subliminarmente, representam não apenas um domingo de muito sol, mas o colorido
da paisagem e dos tipos humanos. Atmosfera pontuada por uma música que, em
ritmo de samba, enaltece a cultura popular e traz, em refrão, certa alegria.
Entretanto, o primeiro diálogo vem do interior da favela e expressa desentendimentos familiares. Em frente ao seu barraco, a
dona de casa esboça o conflito familiar provocado pelo alcoolismo do marido,
chama a atenção da filha sobre a escolha de<span style="color: red;"> </span>namorado, enquanto lhe pede para comprar feijão na feira.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">A sequência
seguinte constrói imagens do cotidiano de crianças nas áreas livres da favela, onde
os vendedores de amendoim, munidos de seus aparatos de comércio, se preparam
para a jornada de vendas em vários pontos da cidade. Uns querem ir para o
Corcovado, outros para o Pão de Açúcar ou qualquer lugar onde haja o maior
número de turistas. Associado aos meninos está um adolescente que age como
expropriador dos demais, contrapondo-se ao personagem Jorge que, com a mãe
doente numa cama, é arrimo de família. Nesse ínterim, entre crianças que jogam
futebol de rua ou pessoas que levam latas de água na cabeça, aparece o</span><span style="color: red; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">típico “malandro do morro” – o Miro – que nutre desejo e obsessão
pela “mocinha”, a operária Alice.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Nas lentes do
cineasta, a favela é o ponto de partida para a compreensão e percepção do
espaço real da cidade do Rio de Janeiro. É quando a câmera se afasta dos monumentos
construídos pela natureza, para desvelar o constructo social urbano. No Morro
do Cabuçu há pesos e medidas, estorvos e “acertos”. </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Condição que reforça esse
recorte espacial da desigualdade. A favela aqui
mostra sua face múltipla, seus personagens são
heterogêneos bem como as práticas humanas radiografadas e filtradas na
composição e movimento das imagens. Define-se, pois, um universo relacional da
informalidade, composto de espaços públicos que definem áreas de circulação, de
encontros, embates e dispersão.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Humberto Kzure-Cerquerahttp://www.blogger.com/profile/08438943462755485779noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2129447066462245494.post-7112965376166965592012-03-07T08:59:00.000-08:002012-03-07T08:59:13.047-08:00Almas de Guardanapo<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Tenho 22 anos, beirando 23. Logo-logo 24, 25... 27...
quiçá! Não escrevo diário, tenho receio de mim mesmo. Receio do que escrever
sobre o que desconheço. Eu, eu apenas coleciono vidas inanimadas; réplicas paralisadas
de um eu espetacular que lança timidamente movimentos previsíveis, tais quais
os espectros. Minha gramática é monossilábica: torpe e curta. Não é à toa que me
dirijo a outrem com o artifício da alcunha: Fá, Fê, Si, Rê, Vi. Talvez não
tarde e chegue o dia de recriar a mim mesmo. Hoje, vejo e estou cego, ouço e
estou surdo, falo e estou mudo. Nem mesmo o tato é arrebatador. É, pois,
cênico! Choro aqui e gargalho ali. Embalo-me nas ondas clássicas da mijada midiática.
Ou de qualquer onda. É somente uma onda. É uma enxurrada <i>tsunâmica</i> de imprecisos verbos, absorvidos pelos espelhos
eletrônicos que me custam os olhos e as horas. Fragmentos de projeção sem
glória ou substratos de casca e vento? Desnudo-me e, perplexo, percorro meus
próprios campos investidos de medo e complexos. Antes, vou tomar um gole, ou
melhor, vários goles etílicos capazes de impulsionar minha própria sombra nos
salões da fantasia e das efêmeras alcovas. Esqueço-me que os holofotes também
nos cegam. Revisito-me e não sei por quê! Fato é que comi o pão, bebi a água e
arrotei a energia alheia sugada. Só me resta limpar a boca, amassar o
guardanapo e atirá-lo a esmo? <o:p></o:p></span></div>
</div>Humberto Kzure-Cerquerahttp://www.blogger.com/profile/08438943462755485779noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2129447066462245494.post-12369841594942733412012-03-01T10:21:00.001-08:002012-03-01T10:21:13.067-08:00A Viagem de Saramago<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;">"Caros amigos,</span><span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;"> </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13px; line-height: 18px;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span></div>
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">em 18 de junho de 2010, o Silêncio. Apenas alguns segundos de reflexão.</span></span></div>
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13px; line-height: 18px;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span></div>
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ainda é possível emocionar-se nessa vida da hipermodernidade? (termo utilizado pelo filósofo contemporâneo francês Gilles Lipovetzky) Ou só nos emocionamos a partir da necessidade do consumo exacerbado, impetrado pelas armadilhas da propaganda e da mídia? Hoje, o "ter" (em demasia) é protagonista em relação ao "ser". Nessa hipermodernidade, e também era do "medo" como ressaltava nosso saudoso geógrafo Milton Santos, tudo parece descartável; inclusive as pessoas. Fenômeno sociocultural muito presente nas metrópoles e que se espalha como tentáculos obscuros para os centros urbanos menores.</span></span></div>
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13px; line-height: 18px;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span></div>
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Morreu José Saramago. Ou melhor, Saramago voou para o infinito, entre luzes e trevas. "A viagem do elefante” nos deixa um imenso vazio nesses "Ensaios sobre a Cegueira e Lucidez" - humana. Tanto como voz das "letras portuguesas", como expoente do grito de liberdade humana e contestação política, inclusive da própria noção de democracia. Portugal acordou triste. O mundo ficou mais triste. Eu também fico triste. E, ao emocionar-me diante de tamanha perda, percebo que ainda posso ter momentos de profunda lamentação. Esse Nobel da Literatura nos conforta pela obra que herdamos sem fazer qualquer esforço. </span></span></div>
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13px; line-height: 18px;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span></div>
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Fico a pensar o que será das letras em mundo cada vez mais veloz e contraditório. Vivemos entre ser diferente e a indiferença (Lipovetsky), e escassez e ausência de respostas - qualquer que seja. Talvez por isso, fui alimentar-me de mais emoção ao assistir ao filme "Cartas para Julieta". Além de ver a sábia atriz inglesa Vanessa Redgrave, com o brilho em seus cabelos alvos e olhos de azul profundo, cada vez mais acredito estar certo: o cinema nos poupa, ou nos liberta, dos divãs psicanalistas.</span></span></div>
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13px; line-height: 18px;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span></div>
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Nesse dia intenso de emoção, trabalhamos em nosso documentário sobre os apartados da vida hipermoderna - os pobres; mas não menos isentos e também cúmplices dos impactos do consumismo; do supérfluo. Como Saramago, também vou "cuspir marimbondos" através de imagens, como voz de oposição a esse mundo que insiste em criar (in)verdades e abismos descortinados para os mais desavisados.</span></span></div>
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13px; line-height: 18px;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span></div>
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E só! Afinal, cartas (e:mail's) são para ser enviadas sem esperar respostas (Villa Lobos).</span></span></div>
<span style="background-color: white; font-size: 13px; line-height: 18px;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13px; line-height: 18px;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></span></div>
<span style="background-color: white; line-height: 18px;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span></span><br />
<div style="font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; line-height: 18px;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Toque no coração; apenas!"</span></span></div>
<span style="background-color: white; line-height: 18px;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">
<div style="font-size: 13px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<b><span style="font-size: xx-small;">Texto originalmente escrito em 18 de junho de 2010</span></b></div>
</span></span>Humberto Kzure-Cerquerahttp://www.blogger.com/profile/08438943462755485779noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2129447066462245494.post-31406598244383405962012-02-28T12:03:00.001-08:002012-03-01T11:05:57.044-08:00Traços Entrelaçados<div style="text-align: justify;">
</div>
<h1 style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Verdana, Arial, sans-serif; line-height: 18px; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 12pt;">Traços entrelaçados</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 12pt; font-weight: normal;">. Assim nos parece uma maneira preliminar e particular para descrever, sem julgamentos de valor, os conteúdos artísticos que se apresentam nos desenhos de </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 12pt;"><a href="http://www.numafolha.blogspot.com/">Gustavo Badolati Racca</a></span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 12pt; font-weight: normal;">. Seus impulsos, conscientes ou inconscientes, para tingir o campo neutro materializam signos e significados em unidades de expressão muito próximas da semiótica de Greimas. Unidades categorizadas pelos tons e saturação – <i>categorias cromáticas</i> – e pelos contornos, texturas, direções – <i>categorias eidéticas</i>. Os desenhos constroem, desconstroem e reconstroem geometrias capazes de inscrever percepções próprias da psicologia cognitiva, cujo espaço visual induz o observador à formação de imagens imbricadas de sonhos e/ou alucinações, ou pulsões fundamentadas na contramão da culpa. Lembra-nos, aqui, o que é contrário ao senso comum em relação à consciência moral, para a qual Freud compreendia como aquela que nasce da renúncia e não a renúncia às pulsões que advém dela. Se for preciso desafiar as leis, ou a desobediência a sua origem edipiana, é imperativo correlacioná-las ao desejo como propôs Kant. Contudo, a lei é o desejo recalcado como sentenciava Lacan ao perseguir meandros do pensamento kantiano. Mas, se a psicanálise exige debates mais aguçados sobre aspectos comportamentais humanos, interessa-nos neste momento lembrar das transgressões da arte e dos artistas ao construírem estéticas próprias da expressão impulsionadas pela experiência, pelo inconsciente e pelas representações. Os ensaios de Racca transpõem a simples anatomia e a verossimilhança das formas visíveis para a especulação e a experimentação criativa. Sobre isso, John Dewey (2010), em<i>Arte como experiência</i>, sublinha que:<o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Verdana, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Verdana, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; margin-left: 117pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 10pt;">Toda experiência, seja ela de importância ínfima ou enorme, começa com uma impulsão, e não <i>como</i> uma impulsão. Digo ‘impulsão’ em vez de ‘impulso’. Um impulso é especializado e particular; mesmo quando instintivo, é simplesmente parte do mecanismo envolvido em uma adaptação mais completa ao meio. ‘Impulsão’ designa um movimento de todo o organismo para fora e para adiante, e dela alguns impulsos especiais são auxiliares. É a ânsia de alimento da criatura viva em contraste com as reações da língua e dos lábios que estão envolvidos no deglutir; é o voltar-se do corpo como um todo para a luz, como heliotropismo das plantas, em contraste com o acompanhar uma luz particular com os olhos. (DEWEY, 2010: 143</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;">).<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Verdana, Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<h1 style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Verdana, Arial, sans-serif; line-height: 18px; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 12pt; font-weight: normal;">Os desenhos que neste painel – <i>Blog</i> – fogem do caricato expressam introspecção, exterioridade, melancolia, carne e memória ou desejo de voos que se fixam no imaginário. Os traços seguem uma linha tênue entre começo e fim para entrelaçá-los sobre a superfície plana e clara, com desejo de extrapolar o campo material.</span></h1>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2-CamHdtE9_LvDCPfTYDv0LOOvAqZSR_geZyZoJegp-v_OD8IyniqILyefs60MnBs8EF267FRbuhCs-Sr0wFEvxft2ae4TXPLvFC6jAbv2BNYTZRtQGnmRyF7nGi0pDPMtH7QLAQPh8k/s320/Humberto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2-CamHdtE9_LvDCPfTYDv0LOOvAqZSR_geZyZoJegp-v_OD8IyniqILyefs60MnBs8EF267FRbuhCs-Sr0wFEvxft2ae4TXPLvFC6jAbv2BNYTZRtQGnmRyF7nGi0pDPMtH7QLAQPh8k/s320/Humberto.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: xx-small;"><b>Desenho: <a href="http://www.numafolha.blogspot.com/">Gustavo Racca</a></b></span></div>
<div>
<span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 12pt; font-weight: normal;"><br /></span></div>Humberto Kzure-Cerquerahttp://www.blogger.com/profile/08438943462755485779noreply@blogger.com1